segunda-feira, 28 de maio de 2012

Cruzeiro Seixas

Surrealista?

"até à morte! Isso é uma coisa que não tem cura!"


Coisas boas em jornais

"(...) quando entramos num museu e vemos coisas como a «Vitória de Samotrácia», por aí fora. Coisas que nos fazem perder a cabeça. Coisas que não nos cansamos de olhar e com que não nos cansamos de fazer amor. Porque fazemos amor, violentamente, com essas coisas." (Cruzeiro Seixas)


Grupo Surrealista de Lisboa, Portugal 1949. Na foto, da esquerda para a direita : Henrique Risques Pereira, Mário Henrique Leiria, António Maria Lisboa, Pedro Oom, Mário Cesariny, Cruzeiro Seixas, Carlos Eurico da Costa e Fernando Alves dos Santos. I Exposição dos Surrealistas, Junho/Julho, 1949. Foto de republicadassantasbicicletas.wordpress.com

Uma Grande Grande Grande entrevista a Cruzeiro Seixas



Artur Manuel Rodrigues do Cruzeiro Seixas nasceu na Amadora a 3 de Dezembro de 1920. Em 1935, matriculou-se na Escola de Artes Decorativas António Arroio, em Lisboa, onde conheceu, entre outros, Mário Cesariny, Marcelino Vespeira, António Domingues, Fernando José Francisco, Fernando Azevedo e Júlio Pomar. Com estes e outros artistas participou, em 1943, em tertúlias de carácter vanguardista. Depois de uma fase expressionista-neo-realista, as inquietações plásticas e os desejos de libertação estéticos e ideológicos levam Cruzeiro Seixas a abraçar o projecto perfilhado pelo Grupo Surrealista de Lisboa, tornando-se, uma das figuras de referência daquele grupo fundado em 1947. Desde que assumiu os preceitos surrealistas não mais os abandonou, mantendo-se fiel ao onirismo figurativo dessa poética que empregou também em colagens e objectos. Com Mário Cesariny, António Maria Lisboa, Mário Henriques Leiria, Pedro Com, Fernando José Francisco, Risques Pereira, Fernando Alves dos Santos, Carlos Eurico da Costa, Carlos Calvet e António Paulo Tomás, organiza a Primeira Exposição dos Surrealistas na cidade de Lisboa (Janeiro de 1949, entre a Sé e o Aljube). No ano seguinte, participa na segunda exposição de “Os Surrealistas” (Lisboa, Livraria Francesa) e assina diversos manifestos e folhas volantes. Em 1951, Cruzeiro Seixas alista-se na Marinha Mercante, viaja até à Índia e Extremo Oriente, acabando por se fixar em África, Angola, durante doze anos. Em 1964, com o intensificar da Guerra Colonial, Cruzeiro Seixas vê-se constrangido a regressar à Europa. De volta a Portugal, participa em inúmeras exposições. Na década de 70, participa em inúmeras colectivas do movimento surrealista internacional, principalmente aquelas ligadas ao Grupo Phases (liderado pelo poeta e ensaísta Édouard Jaguer, ao qual havia, entretanto, aderido). Em 1999, doa a totalidade da sua colecção à Fundação Cupertino de Miranda, com vista à constituição de um Centro de Estudos e Museu do Surrealismo. Artista Versátil, explorou, ao longo de décadas, as infinitas poéticas do surrealismo. Animou a renovação da arte portuguesa, propiciando exposições de artistas novos e a divulgação de artistas e movimentos internacionais nas galerias onde colaborou. Actualmente vive e trabalha em Lisboa. (fonte: www.circuloarturbual.com)




Cruzeiro Seixas.
Foto de www.circuloarturbual.com
Ainda é surrealista, Cruzeiro Seixas? 

- Ah, isso até à morte! Isso é uma coisa que não tem cura.

A pergunta, se calhar, devia ser outra: ainda se pode ser surrealista no século XXI? 

- Eu acho que cada vez vai haver mais. E isso é uma coisa que se está a notar aqui em Portugal: de um momento para o outro, houve um interesse súbito pelo surrealismo.

O surrealismo ainda faz sentido como fazia há cinquenta anos? 

- Acho que sim. O surrealismo ainda vai ser descoberto. Ou redescoberto. Foi a maior filosofia - ou uma das maiores, para além do comunismo ou do existencialismo... Mas parece que tem pernas para andar, mais tarde, quando for redescoberta.

Mas pode ser-se surrealista, ainda hoje, como se poderia ser, sei lá!, cubista, Impressionista, gótico (para falar noutras correntes na área das artes plásticas)? 

- Simplesmente, essas correntes, a maior parte delas, tinham um factor que era o mais importante: o estético. O surrealismo tem, além do estético, uma filosofia de vida que é muito importante e que vai mais longe.

Não estamos a falar, portanto, apenas de estilo ou de técnicas artísticas mas de algo mais do que Isso.

- Há muito mais do que isso no surrealismo. O pensamento que está por dentro disso é muito mais importante, até, do que essa própria opção.

Falou de uma filosofia de vida: é o mergulho no Inconsciente? 

- É por aí que nós temos que encontrar o caminho. O caminho do futuro vem por aí, com certeza.

Vem do Inconsciente? 

- Do inconsciente no consciente, evidentemente. Vamos supor, por exemplo, que o Homem se divide em partes iguais: uma delas será inconsciente e a outra consciente. Realmente, temos que admitir, pelo menos, que existem as duas e que são ambas muito importantes.

Explique-me o que é o seu surrealismo. Cruzeiro Seixas? 

- Cada um tem o seu, de facto. É engraçado o modo como você põe essa pergunta. Tenho impressão que cada um faz o seu surrealismo, diferente dos outros.

E o seu...

- O meu é um surrealismo que assenta principalmente numa ideia de liberdade louca.

Louca! 

- Louca. Porque é tanta. E o desejo dela ultrapassa tanto a loucura, mesmo! E depois, posso-me gabar de ter realmente conseguido, de certa maneira, realizar essa loucura...

Viveu-a? 

-... e de tê-la vivido. Acho que sim. Hoje, com 84 anos, tenho já uma visão enorme da vida e posso espantar-me a mim próprio, não é? 

Pela liberdade ou pela loucura? 

- Pela liberdade e pela loucura que meti dentro dela. Consegui! Consegui realmente viver.

O que é que a sua vida teve de mais louco? 

- Bom, para não lhe falar nos amores, esta liberdade que nós sentimos no dia-a-dia. Sermos capazes de passar pelos perigos. Estarmos à beira do abismo e não cairmos nele.

A vertigem atrai? 

- A vertigem atrai imenso. Estive muitas vezes no abismo, enfim, à beira dele, com um pé mesmo nele. Mas sabemos realmente ultrapassar isso.

O que é artístico é conseguir acabar por não cair no abismo.

- Cair não me apetece muito. Realmente é muito bonito mas para isso acho que é preciso ser-se genial. Eu não sou genial. Ou então fica-se um desgraçado que anda a dormir pela rua.

Alguma vez correu esse risco? 

- Eu julguei que era isso que me ia acontecer na vida. Aqui há uns 30,40 anos eu supunha que o meu destino era ser um vadio.

Cruzeiro Seixas. Projecto para um Tejo à nossa medida, 1966
Serigrafia, 15 x 20,5 cm, foto em www.fcm.org.pt
Por desadaptação? 

- Por desadaptação. Por não ter o mínimo jeito para fazer contas, por exemplo. E isso é uma coisa absolutamente necessária. Se me perguntar quanto são sete vezes nove eu não sei 

Nunca chegou a saber ou esqueceu, entretanto? 

- Nunca soube. Apanhei pancadaria quando era miúdo porque isso era uma das coisas principais, nas escolas. E davam reguadas! Os outros todos saíam da aula e eu ficava mais uma hora a apanhar. Na-na-na-na-na-na... Pumba, apanhava. Nunca fui capaz de aprender.

Diz com um certo orgulho.

- Sim, sim, com muito orgulho. E com orgulho porque acho que é uma coisa absolutamente desnecessária.

O quê, fazer contas? 

- Fazer contas! Fiz a minha vida sem fazer contas e não morri à fome. Quer dizer, é estranho. Eu próprio me espanto imenso, como é que foi possível. Mas estou aqui, você vê: isto não é propriamente uma barraca! Não, pelo contrario: é uma excelente casa, no centro de Lisboa...

- É engraçado, não é? 

Não sei como é que isso foi.

Alguém lhe fez as contas? 

- Não, não. Nunca.

Não teve contabilista a zelar pelas suas contas? 

- Não. Esses só aparecem para roubar. Isso é muito perigoso. Mas a minha experiência foi esta. Mais: posso dizer-lhe que sou das poucas pessoas em Portugal que não recebeu herança nenhuma. Os meus pais deixaram-me dívidas. Quer dizer, eu não tinha nada, nada, nada. Tinha-me a mim, apenas. E com a grande dificuldade de não ter vontade nenhuma de ser um pintor a sério.

Faz até questão de dizer que nunca foi profissional das artes, profissional da pintura.

- Nunca. Felizmente não. Isso era horrível.

Mas foi da pintura que viveu a vida toda ou não? 

- Não. Durante anos e anos - e era esse o meu projeto de vida mas, depois, as coisas tomaram outro caminho - vivi de empregos. Tinha empregos sempre o mais baixos possível.

Empregos de que tipo? 

- Olhe, em África trabalhei em seguros, fiz publicidade de uma empresa de cervejas. Sabe como era? É engraçado. Realmente, o que eu queria era andar pelo interior de África. Luanda não me interessava. O que me apaixonava era, realmente, o interior. A aventura. Não havia estradas. Portanto, tudo o que acontecia era com umas campanas velhas, com lama, com areia, com rios sem pontes, a passar em jangadas que eram arrastadas pelas chuvas e que desapareciam... Tudo isso, toda essa cobóiada.

Privilegiou sempre a Liberdade ao bem-estar? 
André Breton por Man Ray, 1935.
foto em chagalov.tumblr.com

- Sim. E acho que soube tirar partido desse mal-estar. Aqui há tempos dizia que, se o Breton, o pai do surrealismo, cá voltasse, cairia para o lado de espanto por ver o que se faz hoje da Liberdade. 

Um espanto satisfeito ou insatisfeito? 

- Acho que insatisfeito. E muito decepcionado, com certeza. O mau uso que hoje se faz da liberdade é uma coisa que a mim também me decepciona muito.

A que uso da Liberdade é que se refere? 

- A todos. Eu, que não sou com certeza um moralista, acho que este caminho que a liberdade deu à moral está completamente errado.

Não é um contra-senso prescrever quais são os bons e os maus usos da liberdade: isso não será uma forma já de a pôr em causa? 

- Pois, quer dizer, eu não lhe vou contar pelos dedos quais são as coisas e apontá-las...

Mas pode dar-me um exemplo.

- Acho que uma certa loucura que há hoje... Nós vemos, por exemplo, a nível da política: isto é uma vergonha. Acho que hoje há um grande fracasso no mundo. Um dramático fracasso que, de uma maneira geral, as pessoas estão a pagar caro e, particularmente, aqui em Portugal que é um país com pouca força, sem dinheiro. Não vemos, em absoluto, o que vai acontecer amanhã. As coisas só tendem a piorar.

Teme o futuro? 

- Eu já não tenho futuro. O meu futuro é o cemitério. Com oitenta e quatro anos já não há futuro. Agora, gostava de me ir embora com uma visão melhor das coisas e do mundo. Do amanhã. E isso é muito difícil.

Não viu as coisas melhorarem, apesar de ter vivido uma época de dificuldades em termos sociais, de repressão, uma época em que não existia a Liberdade que há hoje? 

- Entre as duas liberdades, a outra era muito doente, esta é doentinha. Se corresponde ao meu ideal e ao ideal de um Breton e dessa gente? Também não.

Defina-me o seu Ideal.

- O meu ideal!? Coisa complicada. É muito difícil. Mas digo-lhe que ele assenta, principalmente, na liberdade. A liberdade das pessoas. A liberdade do indivíduo é, realmente, a coisa mais bonita. Arranjarmos maneira de, todos os dias, termos consciência de que ultrapassámos as barreiras que nos queriam pôr. Se estivermos no labirinto, que conseguimos sair do labirinto. Que pusemos, pelo menos, um pé de fora. Isso é realmente o principal.

Que herança, para lá da herança artística, lhe parece que o surrealismo terá deixado? 

- É essa. O espírito de liberdade e a possibilidade de entendimento. Essa possibilidade do surrealismo vem de imensas coisas. Por exemplo, dos jogos que eles faziam uns com os outros.

Diz eles, não diz nós.

- Eles, os grandes surrealistas, os que inventaram a coisa. Quer dizer, o grupo do Breton, que surgiu logo após a guerra de 14. Eram gente genial que ainda não foi substituída.

Acontece que a palavra surrealismo, o adjectivo surrealista entrou na linguagem comum como sinónimo de disparate, de coisa sem pés nem cabeça. Incomoda-o esta vulgarização do termo? 

- Incomoda-me só deste ponto de vista: as pessoas, realmente, mostram ser incultas. Se tivessem o mínimo de cultura sabiam que o surrealismo era uma filosofia e não um sinónimo de disparate. E, depois, é gente na Assembleia da República, são ministros que usam o surrealismo como se fosse sinónimo de loucura. Ora, se forem ao dicionário não está lá como sinónimo de loucura. Em todos os dicionários está uma explicação do surrealismo como sendo um movimento intelectual. E dos mais extraordinários que o nosso século teve.

Já uma vez disse que nunca lhe interessou ser um intelectual ou um artista. O que é que desejou ser então? 

- Um homem. Acho que é a coisa mais difícil de todas. E a mais apaixonante. Ser uma pessoa, um ser humano.

Homenagem a António Maria Lisboa
foto em www.circuloarturbual.com
Qual era o seu grande sonho de infância? 

- Não sei. Acho que nunca tive sonhos de infância.

Não se recorda de querer ser qualquer coisa quando fosse grande? 

- Não. Contava-se que o meu avô, quando era pequeno e lhe perguntaram o que é que ele queria ser, respondeu: bombeiro. Naquele tempo em que as famílias todas, claro, queriam que os meninos fossem outra coisa, não é? Esta história contou-se sempre.

Não há nenhuma história familiar, dessas, a seu respeito? 

- A meu respeito não.

Teve uma infância feliz? 

- Tive uma mãe e um pai extraordinários. Sem dinheiro. Nunca havia dinheiro nenhum lá em casa. Mas realmente com um ambiente de concórdia e de respeito de uns pelos outros, de respeito por mim e pela minha liberdade. Isto claro já não é só uma recordação de  infância , é uma recordação de adolescência e por aí fora: os meus pais nunca me perguntaram o que é que eu queria fazer na vida. Tendo muito interesse por mim. Um interesse de todos os segundos. Nunca me perguntaram esta coisa que é costume os pais perguntarem: quando é que casas? quando tens uma namorada? 

Nunca lhe perguntaram esse tipo de coisas? 

- Nunca. Nunca, nunca, nunca. E isso é uma coisa que enche de luz a minha vida. É uma coisa linda. Acho uma estupidez extraordinária estarem a querer impingir uma mulher ou um homem a um ser humano. Nunca me fizeram isso.

Continua a tentar guardar uma certa ingenuidade da  infância, Já o disse.

- Eu sou um naïf.

Por opção? 

- Por opção.

O que demonstra já uma certa consciência da ingenuidade, ou seja, um pouco menos de Ingenuidade.

- Sim, você vê muito bem o problema.

Naïf ou ingénuo é aquele que não se dá conta de o ser.

- É, claro. Mas isso é tão difícil. Ainda haverá hoje alguém que seja ingénuo? Já não há. Ninguém, creio eu.

Porque é que diz ter tentado guardar sempre a sua ingenuidade com unhas e dentes? 

- Olhe, porque tenho a maior admiração pelas pessoas ingénuas. Claro que a própria pintura ingénua... Há o caso maravilhoso de um francês que construiu o palais ideal. Ele era carteiro, andava a pé, fazia quilómetros e quilómetros, fazia uns 70 quilómetros por dia a distribuir correio na província | francesa. E ia guardando pedras no saco. Para lá levava o correio e para cá trazia pedras bonitas. Com essas pedras bonitas que trazia construiu um palácio - que ele chamava o «palais idéale» - que hoje é um monumento de invenção, de imaginação de um homenzinho qualquer que era simplesmente carteiro numa terrinha de província.

É esse tipo de ingenuidade que o motiva, que o comove? 

- Se eu tivesse de invejar alguém, invejava esse homem. Quem me dera ter construído aquilo.

Qual é a principal utilidade (para usar uma palavra muito presente no nosso quotidiano, hoje) que encontra na ingenuidade? 

- Não tem utilidade nenhuma a não ser satisfazer-se a si própria. Uma pessoa ingénua, hoje, em princípio, só vai ser esmagada pela vida, pelo quotidiano.

Nunca temeu vir a ser esmagado pela vida e pelo quotidiano ao tentar manter essa dose de ingenuidade? 

- É realmente essa luta que é apaixonante. É como a formiga a fugir da pata do elefante. Claro, o elefante não sabe que vai pisar a formiga mas a formiga, naturalmente, foge, esquiva-se e depois ri-se quando o elefante passou: desta livrei-me eu! 

No dia a seguir ao nosso casamento, 1967.
foto em oeiraslocal.blogspot.pt
Sentiu muitas patas de elefante sobre si? 

- Muitas vezes. Fui muitas vezes a formiga por baixo do elefante.

Teve uma infância lisboeta...

- Eu, quando era miúdo, era muito doentinho, muito fraquinho. O médico disse aos meus pais que eu não ia passar dos sete anos. De maneira que saímos de Lisboa, ou melhor da Amadora, e formos viver para o Estoril, para S. Pedro do Estoril. Que, nessa altura, não era chique como é hoje.

Foi uma infância com muita praia.

- A mãe ia todos os dias comigo para a praia. Tomava banhos de sol e essas coisas todas que faziam bem, que se dizia que faziam bem aos meninos.

Estava-se pelos anos 20...

- Vinte e poucos, devia eu ter uns seis anos ou coisa assim.

... que não eram em Portugal os famosos «roaring twenties", não eram, por cá, «os loucos anos vinte».

- Não, nada. Lembro-me de um ventinho que passou pela minha mãe, pelas minhas tias, quando as senhoras cortaram os carrapitos.

Lembra-se disso como uma cena de liberdade? 

- Lembro-me. Era o cabelo à garçonne. Lembro-me, por exemplo, de uma anedota que vinha nas revistas. Era daquelas anedotas que ficam mais em desenho do que propriamente em palavras. Era um homem e uma senhora com o cabelo já cortado à garçoime, como se dizia, numa cama. Então, a criada entrava no quarto com o tabuleiro do pequeno-almoço e dizia: qual dos senhores é a senhora? Isto, para a época, era extraordinário.

Lembra-se disso num desenho? 

- Era um desenho do Stuart Carvalhais.

Quer dizer que os desenhos desde cedo lhe chamaram a atenção? 

- Eram muito bonitos.

Começou cedo a desenhar? 

- Sim. Como não tinha brinquedos, a minha mãe dava-me papel e lápis. De maneira que era o meu grande entretenimento. O meu brinquedo principal foi sempre fazer desenhos. Que eram iguais aos das outras crianças. Não tinham nada de extraordinário.

Recordação de Lisboa em forma de postal, 1970.
Cruzeiro Seixas. Foto em www.fcm.org.pt
Não lhe gabaram logo o talento desde pequenino? 

- A mãe gabava mas...

Em que momento, então, é que começaram a incentivar-lhe o talento? 

- Nunca acreditei muito nisso, sabe.

Nunca acreditou muito no talento ou no seu talento? 

- Não, nos elogios das pessoas. Nunca acreditei muito. Claro que passei a tornar isso um bocadinho a sério quando isso veio, por exemplo, da parte de um Cesariny. Éramos colegas.

Na António Arroio, ainda? 

- Na António Arroio. Fez-se uma grande camaradagem entre nós, tínhamos uns 17,18 anos. E realmente ele ficava... E depois levava a minha casa outros: o António Maria Lisboa, o António Domingues... Enfim, essa gente toda. Para verem as minhas coisas. Eu ficava com uma certa vaidade mas não percebia nada do que estava a acontecer à minha volta.

O Cruzeiro Seixas foi para a António Arroio por iniciativa própria ou por incentivo de alguém? 

- Como eu fazia os tais desenhos e os pais não tinham dinheiro para me meter num liceu, acharam que aquilo era o mais barato. E também como tinha a tal habilidadezinha para o desenho, talvez conseguisse alguma coisa ali.

Foi lá na António Arroio que conheceu boa parte desses seus companheiros de percurso surrealista.

- Sim. Lá andava o Pomar, o Vespeira, lá andava toda a gente.

Quem é que o iniciou nas lides surrealistas? 

- Talvez, em grande parte, o Cesariny. Era com quem me dava mais. Era o grande camarada.

Era ele o maior conhecedor desse vento surrealista que estava a chegar cá? 

- Sim. Mais tarde, claro. O Cesariny, quando era jovem, aos vinte e tantos anos, era completamente apaixonante. Apaixonante e apaixonado. Sempre muito inteligente e muito culto. Sabia sempre muito mais do que eu.

Cruzeiro Seixas. Finalidade sem fim, 2004.
Tinta-da-china x Papel. Foto em www.guarda.pt
Sublinha «quando ele tinha vinte anos». Quer dizer que, com o tempo, ele foi perdendo esse lado apaixonante? 

- Acho que toda a gente sabe que o nosso relacionamento cessou. De maneira que hoje o que me chega é através de outros relatos que são sempre tendenciosos: uns dizem uma coisa, outros dizem outra. Como os que lhe chegam a ele também o são, com certeza.

Esse relacionamento cessou com mágoa? 

- É triste. Não me dá alegria nenhuma. Não se percebe. Para além de desentendimentos que possa haver entre nós - e que são saudáveis, acho eu - o que é bom é que as pessoas não pensem todas como carneiros.

Desentendimentos de ordem estética ou de outra ordem? 

- De ordem filosófica. À volta de tudo. À volta da vida de todos os dias, do dia-a-dia. Mas acho que, realmente, o que é bom é haver desentendimentos. As coisas ficaram assim e pronto. Agora já não há remédio.

Foi pelo lado dele que se deu esse desentendimento? 

- Não. Se calhar foi por parte dos dois. Se calhar ficámos decepcionados porque, em dada altura, quando éramos novos, a verdadeira paixão era tão grande, o entendimento era tão grande que, quando se é novo, se supõe que aquelas coisas vão durar toda a vida. Depois, começa-se a envelhecer e começa-se a ver que há grandes abismos entre as pessoas. Que somos completamente diferentes. Claro que a sabedoria está em saber ultrapassar esses abismos.

Esses abismos entre as pessoas são uma lei universal? 

- Eu creio que sim. A maior parte das pessoas não sabe ultrapassar esses abismos.

Cruzeiro Seixas e Mário Cesariny.
Foto sem data encontrada na net.
Ainda recorda o primeiro impacto que o manifesto de Breton lhe provocou? 

- Não. Não tenho memória nenhuma. A minha memória não é nada do género intelectual: o número da página, saber que no livro tal está isto assim-assim. Não é nada disso. Tudo fica a fazer parte da minha própria carne.

Mas não se lembra sequer da circunstância em que o descobriu? 

- Lembro-me. Quer dizer, essas coisas entravam com muita dificuldade dentro de mim porque era nos anos 40 e, por um lado, não tinha dinheiro para comprar as coisas, para comprar livros. Por outro lado, as livrarias também estavam muito mal fornecidas. Livros desses, a PIDE não os deixava chegar cá, de um modo geral. Hoje não se pensa como tudo isso era difícil. Qualquer coisinha que chegava, nós corríamos os cafés - Lisboa estava cheia de cafés - a participar uns aos outros, de café em café.

E ainda tem memória da circunstância em que, pela primeira vez, tomou contacto com o manifesto surrealista? 

- Acho que foi através do Mário. Do Cesariny, quer dizer. Ele também o tinha conhecido acho que através do 0'Neill, que tinha trazido de Paris os manifestos do Breton. Parece-me que é isso.

Uma vez descreveu o André Breton como «a bruxa que abriu portas». Por que é que lhe chama bruxa? 

- Quer dizer, a bruxa que sabe muita coisa. É nesse sentido, não é no outro sentido do horrível. Realmente, ele sabia muita coisa. Era um homem que tinha um poder de adivinhação e uma sensibilidade extraordinárias. Poucas pessoas conhecemos no mundo com uma sensibilidade tão grande e tão autêntica para a pintura.

Mas depois aquilo também se tornou uma ortodoxia, a certa altura.

- Eu acho que quando uma pessoa ama uma coisa cegamente é ortodoxo.

Mas com expulsões e tudo - ou seja contrariando a ideia de liberdade.

- Fez muitos disparates, claro. Enganou-se muitas vezes mas toda a gente se engana. Mas tinha uma coisa espantosa. É que realmente, quando se enganava, sabia voltar atrás - um ano ou dois, ou meses depois - e emendar. Aqui é muito mais difícil. As pessoas não sabem fazer isso.

Cruzeiro Seixas Auto-retrato, 1975.
Foto em www.guarda.pt
Aqui em Portugal? 

- Aqui em Portugal tudo é muito difícil.

Considera Breton um génio, claro.

- Sim. Toda aquela geração. É isso que nos falta hoje, sabe.

O génio? 

- Em absoluto. A todos os níveis.

O que é que define o génio? 

- Isso é muito difícil. Naturalmente, é aquele que nos espanta por aquilo que faz e que diz. Que é completamente diferente daquilo que estava antes dele. E depois, que isso que ele diz e que faz não seja apenas uma gracinha para nos espantar. Que seja, realmente, uma coisa que vá tocar e interessar a todos os homens de uma maneira geral.

Disse uma vez: «é pelos olhos que quase tudo penetra em mim». Dá mais importância à sua obra plástica do que à sua obra escrita? 

- Ora aí está uma pergunta que não me tinha ocorrido. Eu creio que sim.

Pergunto-lhe isto porque o sentido mais forte associado à poesia não é o da visão.

- Pois. Eu creio que as coisas se encontram, sabe. Na minha poesia há muita arte plástica, se quiser, e naquilo que se considera arte plástica há muito da minha poesia escrita. As imagens dão saltos de uma coisa para a outra. Para mim é tudo a mesma coisa.

Já houve até alguém que disse que a pintura é poesia muda.

- Sim, isso é uma frase que está dita por muita gente. Aliás, também entre essa gente genial houve imensos que não se sabe bem ao certo se foram poetas se foram pintores.

No seu caso também as duas coisas se misturam.

- Acho que sim. Acho que é a mesma coisa, ao fim e ao resto. É o caso de um Henri Michaux, por exemplo, que fez poesia tão boa como fez boa pintura. Sem ser um pintor. O que há em mim que considero quase a minha coroa de glória é realmente não ter andado em escolas superiores. Não saber desenhar. Ter uma inabilidade natural.

Inabilidade?! 

- Uma inabilidade natural para o desenho e para essas coisas todas. Chumbei durante três anos em desenho, na António Arroio. De maneira que é muito engraçado! Durante três anos com notas negativas: cincos e seis.

Então e aquele talento de infância que o levou para a António Arroio foi contrariado pelos professores? 

- Sim. Os professores eram ainda mestres, com laçarotes e com pera. Ainda com todo aquele aspecto que era próprio do artista. O artista tinha que ser diferente. Hoje, também há outros. Só que é completamente diferente: as grandes cabeleiras, o andar quase que em farrapos. Também há essas coisas que distinguem as pessoas.

Cruzeiro Seixas - A Grande Refeição, 1972.
foto em ofuncionariocansado.blogspot.pt
E, no seu caso, nunca quis distinguir-se por nenhum desses adereços de artista? 

- Não. Não estou nada interessado. Acho uma boa idiotice as pessoas usarem esses estratagemas. Acho pouco honesto. O andar com os sapatos desapertados ou com as orelhas sujas ou a fumar muito... Quer dizer, há pessoas que se agarram a pequeníssimas coisas: falar muito baixinho ou falar muito alto. Coisas que, para mim, realmente, são desconsoladoras. São tristes.

Pergunto-lhe se dá mais importância à obra plástica do que à poesia porque os seus poemas estiveram muito tempo escondidos. Porquê? 

- Só no ano passado é que começaram a ser editados. E foi uma editora que se ofereceu. Nunca pedi nada a ninguém. Foi uma amiga minha que vive em Paris, a Isabel Meyrelles, que se encarregou de pôr ordem aos milhentos poemas que estavam todos a monte dentro de gavetas.

Porque é que os escondeu durante tanto tempo? 

- Porque julgava que não tinham interesse nenhum. Tinha havido um vago interesse do Cesariny, quando éramos muito novos, e que tinha cessado. Foi, depois, a Isabel Meyrelles que se interessou e que deu a ordem àquela papelada toda que eu nunca seria capaz de lhe dar. Já saíram três volumes, grossíssimos, e ainda está mais um para sair. Coisa que me espanta imenso.

Não sabia que tinha escrito tanto? 

- Quando recebi aquele volume pus-me a olhar para aquilo e a pensar, não tenho a menor recordação de estar sentado a uma mesa a escrever poesia. Não me lembro de ter feito nada daquilo. Claro que, se leio os poemas, encontro num e noutro alguma coisa que me vem à memória. Agora, a maior parte são surpresa mesmo para mim. Quase podiam ser de outra pessoa.

Quais são os seus versos que melhor o retratam? 

- Por muito impossível que lhe pareça, não sei um único verso meu de cor. E isto também não é tão impossível como isso porque, por exemplo, da poesia do Cesariny, que foi feita quase toda ao meu lado, eu também não sei versos de cor. Ou sei duas coisas muito antigas e que, possivelmente, ele até já esqueceu.

Por que é que põe datas fictícias nos seus poemas? 

- É para transtornar o caminho aos académicos.


Cruzeiro Seixas, sem titulo, 1960. Foto em saomamede.com e 
Cruzeiro Seixas. Sonho, 2001. Foto em divasecontrabaixos.blogspot.pt


Deliberadamente? 

- Deliberadamente. Fazê-los tropeçar e nunca escreverem um estudo sobre mim a dizer na época tal ele fazia não sei que mais.

Quer dizer, baralhou os papéis todos para aquilo sair com uma ordem que não tem nada a ver com a ordem pela qual os poemas foram escritos.

- Nada. Que eles não possam fazer isso. Ou se fizerem têm de ter muito trabalho. Mas realmente não estou nada interessado nesses estudos.

Grande parte dos seus poemas tem como legenda «África» ou «Áfricas» e depois, à frente, o ano. É só a data que é fictícia ou também, nalguns casos, a indicação da origem? 

- O ano é sempre fictício. «África» poucas vezes aparece. Aparece muito mais «Áfricas». E Áfricas era realmente um jogo. Eu tinha a consciência de que Africa era um sitio de grande infelicidade e de grande horror. Desde as Descobertas que aquela gente era escravizada. Depois, quando o colonialismo assentou bases, continuavam a ser escravizados e depois da liberdade viu-se a desgraça que aquilo tem sido. Vendo tudo isso e tendo o conhecimento das minhas próprias desgraças, eu realmente ligava as coisas e a «Áfricas». Era a África África e a minha própria África. Aquela que vive dentro de mim.

As suas desgraças pessoais, também? 

- Sim. Comparo-me, de certa maneira, a África. Porque a liberdade é sempre insuficiente. É sempre pouca.

Há poemas onde coloca essa designação, Áfricas, que podem ter sido escritos aqui em Lisboa, na Europa? 

- Alguns já foram escritos aqui. Mas África continua dentro de mim. Por paixão, também.

Por que é se veio embora ao fim de 14 anos em Angola? 

- Foi a guerra. E quiseram-me meter uma arma na mão para eu combater.

O Exército quis mobilizá-lo? 

- Não era o Exército. Era a própria população branca que estava aterrorizada - e tinha razão - e fizeram-se milícias que defendiam Luanda. Essas milícias eram senhores doutores, senhores engenheiros, pais de família, mas matavam tudo quanto mexia.

Anuncio da galeria São Mamede em 1972.
Exposição de Cruzeiro Seixas entre outros.
Isso em que ano: em 64? 

- Eu para datas sou muito mau. Vim-me embora, mais ou menos um ano depois daquilo ter começado. Quando vi que não podia fugir a ser mobilizado numa dessas milícias. Era insuportável.

Ainda chegou a pegar em armas? 

- Não. Neguei-me desde logo.

Quando partiu para África, em 1950, já saiu de Lisboa com um destino definido? 

- Ia com o destino de ficar lá para sempre.

A meta já era Angola, logo à partida? 

- Era África toda. Toda a África me parecia apaixonante.

Saiu de Portugal como marinheiro.

- Sim. Não tinha ganha-pão e não tinha dinheiro para viajar. Apareceu uma pessoa no mesmo prédio onde nós morávamos - eu morava com os meus pais - que era da Companhia Nacional de Navegação. Um dia encontrei-o na escada e pedi-lhe se me arranjava um emprego lá na Companhia. Ele disse: sim, senhor, vá lá. E pronto.

Andou muito tempo embarcado? 

- Andei quase dois anos. Foi uma coisa realmente muito interessante por toda a aprendizagem. Bem distante daquilo em que eu tinha sido educado pelos meus pais. Era uma vida muito dura. Mas para além disso tudo tive a oportunidade de conhecer todas as colónias portuguesas ainda com ligações a Portugal: a Índia, Macau, Timor. Tudo isso. O que era realmente a revelação da loucura daqueles tipos que tinham chegado ali nos anos das Descobertas.

Já era surrealista quando se fez ao mar? 

- Sim. A minha visão foi sempre, ao meu nível, tanto quanto possível, surrealista.

Essa viagem, a aventura, adensou esse lado surrealista? 

- Ficou para sempre ligada a mim. Há qualquer coisa que eu sentirei sempre, enquanto viver, que falta fazer em Goa. Essa coisa seria algo que estava ligado à nossa permanência aqui e ao surrealismo. Não sei como é. Claro que era algo completamente impossível de realizar. E continua a ser. Cada vez mais. Mas há qualquer coisa para ali, naquele lado, que me continua a atrair.

A sua vida foi sempre assim, ao sabor do improviso? 

- Sim. Completamente. Sei sempre vagamente o que vai acontecer amanhã.

Já disse uma vez que foi uma vida, toda ela, «um disparate». Em que sentido é que o diz? 

- Disparate porque fiz muito poucas das coisas que as outras pessoas fazem todos os dias. Apenas o que é absolutamente necessário para subsistir. Foi muito complicado, sabe.

Cruzeiro Seixas, Mário-Henrique Leiria, Natália Correia e
Mário Cesariny. Foto sem data, (talvez do fim dos anos 70,
M. Henrique Leiria faleceu em 1980) encontrada na net.
Há alguma coisa de que se arrependa? 

- Naturalmente não fui sempre, tanto quanto possível, amante, próximo, das pessoas de quem o devia ter sido. Nessa perspectiva vejo que errei, às vezes. Quem me dera que não tivesse acontecido. Aconteceu com certeza algumas vezes.

Hoje diz que se sente ofendido, é a expressão que usa, pelos seus próprios sinais de velhice. É-lhe difícil aceitar a idade? 

- Muito. Acho que é uma coisa horrível. Não há nada a fazer, mas realmente é revoltante envelhecer e sentirmos que já não temos a mesma força para resolver os problemas. Felizmente, julgo que ainda estou lúcido. Deixar de ficar lúcido é uma coisa que me mete um medo atroz.

Como é que encara a ideia de morte? 

- Agora, nesta altura e a qualquer momento em que este estado se agrave, acho que é um alívio. Desejava-a imenso. Mas ainda estou vivo e ainda tenho que me mexer como um tipo que está vivo, claro. Mas já estou meio como a formiga pisada pelo tal elefante. Só uma parte de mim a remexer. Há muita coisa que já pertence à História, que já não me pertence a mim. Por exemplo, o viajar. Amar nós nunca nos cansamos de amar, não é? E isso realmente é uma coisa de que se tem muita saudade quando se chega a velho. Pelo menos no meu caso. Mas as coisas não podem ser como nós queremos, claro.

É um homem desencantado, de alguma forma? 

- A vida tem duas partes iguais. Há uma que é realmente apaixonante e outra que é decepcionante. O desencanto também é muito forte. E, claro, numa vida vivida intensamente há as duas partes muito intensas, também.

Qual foi o maior encanto que viveu ao longo da sua vida já de 84 anos? 

- Bom, eu sou um apaixonado pela pintura. Mas também recordações de amor pessoas que amei, duas ou três pessoas extraordinárias que não esqueço mais. O encontro, o coup de foudre, como dizem os franceses. Aquela coisa espantosa que é encontrarmos uma pessoa, cruzarmos o olhar e, daí a bocado, estarmos na cama, por exemplo, como acontecia na Lisboa de aqui há uns anos. Isso são coisas muito bonitas. Quer dizer, há tanta coisa admirável. A Natureza. Ou quando entramos num museu e vemos coisas como a «Vitória de Samotrácia», por aí fora. Coisas que nos fazem perder a cabeça. Coisas que não nos cansamos de olhar e com que não nos cansamos de fazer amor. Porque fazemos amor, violentamente, com essas coisas.

(Entrevista de Carlos Vaz Marques a Cruzeiro Seixas para o Diário de Notícias em 1 de Abril de 2005)


Cruzeiro Seixas. Foto encontrada na net.


 A Vitória de Samotrácia em fotos de Dmitri Kessel (1950) e Gjon Mili (1962) da LIFE Archive.




"Coisas que não nos cansamos de olhar e com que não nos cansamos de fazer amor. 
Porque fazemos amor, violentamente, com essas coisas." 
(Cruzeiro Seixas) 




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